Às avessas


De sentidos invertidos, foi esta a impressão prevalecente nos primeiros dias a Este. Creio que em circunstâncias semelhantes as costas largas do jet lag avançam solitariamente e admitem a sua culpa. Analisado o caso à distância passo a afirmar: o jet lag teve cúmplices!

Desconheço se constituirá novidade que em Macau se conduz pela esquerda, mas esse é um dos factores-chave para o desvendar da trama.

Uma das tarefas mais importantes que se impõe ao recém-chegado é ensinar ao seu pescoço que o movimento automatizado esquerda/direita comummente utilizado para atravessar a estrada tem de ser substituído pela sequência direita/esquerda. Lição importante a reter cujo chumbo resulta em coima mínima de valente apitadela e pena máxima de atropelamento. Dir-me-ão, que caso ele – o pescoço – tenha dificuldades de aprendizagem pode sempre socorrer-se de cábulas, passadeiras, para passar no teste (vulgo, a estrada). Ao que responderei: “Ah! As passadeiras são desvarios colectivos dos peões! Então não sabem que os condutores em Macau são saudavelmente daltónicos aos padrões riscados a branco e preto?”

As horas de distância são o insuspeito do costume. Encapuzadas no momento do ataque passam despercebidas na fila de identificação. Estar a falar com alguém que nos diz que logo à tarde tem algo para fazer quando se está a sair do trabalho e é noite cerrada atordoa qualquer um. “Não quererás dizer AMANHÃ à tarde?”, escapava amiúde na época em que sentia o peso do tempo virado ao contrário.

Passo a apresentar o 3.º cúmplice. Nesta Região Administrativa Especial a mão de obra nativa é escassa e as cotas para trabalho expatriado diminutas. Afinal não estou às avessas, estou num episódio a cores da Twilight Zone! Anúncios de emprego que quase escapam à ponta das canetas por desinteresse aos olhos dos destinatários?! Se isso não pertence ao género do fantástico não sei o que fará! Daí a carinhosa alcunha que por estes lados se dá aos testes psicotécnicos – litle games. Got it!

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