Foi uma medida simbólica que se limitou a espelhar a queda de um dos patrimónios mais interessantes da presença portuguesa por estes lados - o da língua. Afirmar que a capacidade dos outrora soberanos em difundir a nossa oralidade e escrita não foi bem sucedida, no mínimo, poderá ser classificado de eufemismo. É raro o residente de Macau que fala português, o que pode estar relacionado com o seu ensino não ser obrigatório durante a Administração Lusa do Território. Os erros do passado pagam-se caros no presente, e a extrema necessidade de importar recursos humanos apenas veio acelerar o processo de decadência de uma língua que nunca foi a dos locais.
O poder central tem excelentes estrategas linguísticos. Nem os eficazes ingleses conseguem defender terreno nesta área em Hong Kong, tendo o inglês sido ultrapassado pelo mandarim, que agora segue o líder cantonense.
Em termos legais, o bilinguismo em Macau é oficial. Mas, aparte - e com alguma excepções - da Administração Pública da RAEM, a negligência do português é flagrante.
A tentar estancar a sangria mortal da segunda língua oficial de Macau estão os numerosos jornalistas lusófonos aqui residentes, os quais vão juntando a sua voz à de Camões através da imprensa escrita, das ondas da rádio ou mesmo (e pasmem-se!) da televisão. A Casa de Portugal, para além de algumas acções pontuais, celebra anualmente a Lusofonia com concertos, exposições, barraquinhas gastronómicas e outras mostras de "patrimónios" que se tocam naqueles pedaços de terra por onde fomos passando e que ainda vão ostentando o português, seja com que sotaque for, como língua oficial. Nos dois casos a audiência será na esmagadora maioria constituída por falantes nativos.
Felizmente são poucas as datas conhecidas para o derradeiro momento de algo. Mas, em terra de apostas, não é difícil vaticinar que com o término da vigência da Lei Básica da RAEM, em 2049, a presença da língua portuguesa na China se irá transformar numa distante memória.
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