Desa|s|sossegos por Terras Khmer

NO AEROPORTO
Um homem grisalho de aspecto escandinavo força o tempo a passar, levanta-se e deixa para trás o Macbook que repousa solitário camuflado pela mesa alva. Uma voz masculina quebra o silêncio e num sotaque inglês carregado de francês alerta um elemento do pessoal para o item esquecido. Ela agradece. Informa acerca do ritual de comunicar com os perdidos e achados. O grisalho regressa. O francófono explica o desenrolar da história. A jovem devolve o computador que ainda não tinha percorrido o percurso que minutos antes lhe fora traçado. Os três despedem-se com sorrisos sinceros e quatro pessoas são envolvidas por uma sensação de bem-estar.

LÉS CAFÉS
Já escrevia A. Camus "Nenhum homem é hipócrita nos seus prazeres", e um dos meus é demorar-me por Cafés. Perdoem a frivolidade. A entrega a um prazer aumenta quando dele nos sentimos privados. Phnom Penh oferece um leque arejado de Cafés para usufruto, sobretudo, da comunidade de expatriados residente e dos turistas. À simplicidade e bom gosto junta-se uma excepcional selecção musical para satisfação dos fregueses.

O POVO
O Povo é pobre. O Povo banha-se à mangueirada. O Povo lava a roupa no lago. O Povo pesca no poluído rio. O Povo está de luto por um rei que vivia distante. O Povo não quer saber de política; a política quase o extinguiu. O Povo está-se a marimbar para os cartazes a cada 200 metros do "Cambodian's People Party" e que a presença do Obama na Capital do país seja entendida como um consentimento silencioso à farsa da convocação de eleições monopartidárias. O Povo está ocupado a sobreviver. O Povo assedia e chula os turistas porque precisa e porque pode. O Povo adapta-se. 
O Povo tem olhos negros que nos sugam para as profundezas da sua tristeza, que espelham a sua delicadeza, que brilham de alegria. O Povo Cambojano tem um olhar imenso.



A FERIDA
"I know this is not an easy place to visit...". A voz masculina do guia audio do campo de extermínio de Choeung Ek faz eco da barbárie que ali se praticou e não deixa margem para dúvidas: vai-nos ser relatada uma época de horror.

Começou com deslocações forçadas para o campo, cidades desertas, escolas transformadas em prisões e locais de práticas inumanas. Durante o regime de Pol Pot perseguiu-se, escravizou-se, torturou-se. Ao som de música de propaganda matou-se à paulada - nada de desperdiçar munições. Os intelectuais foram os primeiros, famílias inteiras dizimadas ("O mal tem de se cortar pela raiz", era um dos slogans). Seguiram-se todos os outros que representassem uma ameaça real ou imaginária à visão torpe do líder dos Khmer Vermelhos. As minas terrestres depositadas nas fronteiras escudavam as atrocidades que iam sendo cometidas dos olhares indiscretos do Mundo. Num reinado de Terror de mais de 3 anos Pol Pot exterminou quase 3.000.000 (sim, milhões) de pessoas e mergulhou um Povo nas trevas das quais lentamente se vai erguendo.

O monstro genocida viveu até aos 82 anos. Morreu livre, rodeado pela família e fiéis discípulos. Venham-me falar em Justiça Divina.


PAUSA (1)
Otres Beach - Sihanoukville



CIDADE DOS TEMPLOS
Não há muito para fazer em Siem Reap. A pequena cidade vive do turismo massivo em torno da Cidade (Angkor) dos Templos (Wat). 
Como não sou excepção, às 05h00m já estava alapada no TukTuk na expectativa de ser presenteada com a imagem do raiar do dia que ajudou Angkor Wat a transformar-se em celebridade mundial. Tanto podia ser o pôr-do-sol - o corpo que pague. Tive sorte, foi um belo momento. 


Depois foi percorrer alguns templos do complexo que se imagina ter sido a maior cidade da era pré-industrial e dar a visita por terminada.






PAUSA (2)

Parque Nacional de Phnom Kulen




... e fim.

Comentários