A importância de se ter Talento


São várias as fases de adaptação a um novo meio: lua-de-mel, hostilidade, e humor. Basta fazer uma restrospectiva aos posts que escrevi para perceber que durante estes 3 anos saltitei por todas. A história deste blogue escreve-se de descobrimentos, perspectivas e curiosidades sobre culturas que me continuam a ser estranhas. O diferente inspira-me e durante uns meses nada pareceu "diferente". Foi como se uma cegueira por proximidade tivesse adormecido os restantes sentidos.

Eis senão quando uma dose concentrada de incompetência fez ressurgir a vontade de me agarrar à escrita. Aos que são alheios a Macau pode parecer um tema corriqueiro, e é, por demais! Dada a situação privilegiada de trabalho para os residentes de Macau, os requisitos mínimos de serviço atingem... bem, novos mínimos. No Banco fornecem informações erradas; na CTM (a PT cá do sítio) são pedidos papéis diferentes em cada uma das 4 visitas aos balcões para algo tão complicado como mudar a morada da Internet - excessivamente cara e com constantes falhas, acrescente-se. Neste persistente refazer de tarefas desperdiçam o nosso tempo e o deles. Suspeito ainda que foi estabelecido por decreto que no caso de alguma questão fugir à norma esta tenha de ser respondida automaticamente por "can not" ou com um não desinformado/desinteressado. São múltiplos os exemplos de péssimo serviço e encontram-se em todas as áreas. Clientes há muitos e empregos também, só rareiam as alternativas. Vá-se lá perceber nem sequer existe o hábito de deixar gorjeta na restauração e hotelaria. Claro que este percalço é superado com uma pequena taxa de 10% a 15% para salvaguardar indiscriminadamente a recompensa pelo serviço prestado, seja excepcional ou medíocre.

Para apaziguar o crescente ruído de desagrado estabeleceu-se nas Linhas de Acção Governativa para 2014 a aposta na formação de Talentos. Naquilo que me soa a atalho ou mesmo alucinação colectiva, os governantes parecem esquecer-se duma lei natural básica: antes de correr tem de se saber andar. Copiar avulso termos em voga da área de Recursos Humanos e cunhá-los num documento oficial não transforma desejos em realidade. Querem melhorar instalações, recompensar o mérito e conquistar as pessoas da terra que foram estudar para fora e é no estrangeiro que perseguem carreira, muito bem. Mas não se iludam a pensar que a implementação destas medidas vai resultar em fornadas de pessoas talentosas. Se ajudarem a instigar uma cultura de esforço e eficácia é um bom principio. 

Comentários

  1. gosto de ti Joana e da vontade que tens de continuar a convencer-te de que Macau é um local para wanna be talents or whatever...
    Gosto dessa tua "inocência apaixonada pelos lugares"... E às vezes confesso que foi o que me apaixonou em ti, essa capacidade de ver beleza em torno da fealdade...
    João Pedro
    E tenho saudades todos os dias (sobretudo porque a falta de notas na carteira me fez cortar com quase tudo o que era "ir") daquelas poucas saídas que fizemos... Ficaram para sempre

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