Esta cidade merece

Na cidade em que se tem um pé na Europa e outro na Ásia, a visita foi feita ao pé-coxinho.
Para aproveitar a passo lento a descoberta da megametrópole concedeu-se na travessia do Bósforo e os pés ficaram-se pela Europa, saltitando entre as margens do Corno de Ouro.

Muito do encanto de Istambul entranha-se a ziguezaguear pelas ruas – íngremes, caóticas, decadentes, rejuvenescidas, contraindicadas a pessoas com alergia a gatos. É-se seduzido pelas cores, texturas e paladares, pelos cheiros e sons. O chamamento das mesquitas para a oração em uníssono tem o seu quê de hipnótico. O restante, absorve-se na ida às várias atracções centenárias ou milenares deixadas pelos grandes Impérios que a elegeram Capital. 


Por altura da viagem, a Lira Turca tinha sofrido uma forte desvalorização. Com o câmbio favorável, acabámos por considerar que os cordões da bolsa se poderíam ter alargado quando visitámos alguns dos lugares mais icónicos da cidade. O total dos ingressos para o Museu Hagia Sofia, Palácio Topkapi e Harém, basílica-cisterna e Museu Arqueológico ficou-se por ₺145, o equivalente a €24 por pessoa. A Mesquita Azul é gratuita por ser um local de culto. Ficámos com a sensação de não ter pagado o preço justo, e que um aumento adequado no valor dos bilhetes talvez pudesse ajudar na aceleração das obras de restauro. Conservar o património é dispendioso, e os omnipresentes estaleiros mostram que há um esforço em proteger o legado.


Istambul e Lisboa são parecidas. Da luz, ao mapa topográfico; dos eléctricos a circular, aos estendais de roupa. Não fossem os minaretes das mesquitas e juraria que do cimo da Torre Gálata mirava Lisboa.



À vista de todos está a forte influência religiosa no quotidiano. Seja numa mesquita, no vestuário, ou num ritual sufista transformado em espectáculo pelos Whirling Dervishes, que oram silenciosamente enquanto rodopiam nos seus trajes brancos. Também bastante visível é o fosso entre ricos e pobres.

Istambul merece ser percorrida a pé e que se bata o recorde de passos dados num só dia (30.502). Merece que se espere em filas que parecem não ter fim. Merece que se fique indisposto depois duma barrigada de comida e com o pescoço dorido de tanto olhar para cima. Merece que se encha a memória do cartão da câmara com fotografias. Istambul merece ser palmilhada, saboreada, admirada e relembrada.

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