Dreams today

Li em tempos um livro que tinha banda sonora. De discman em riste lá obedecia às indicações sobre que faixa tocar do CD que vinha na contracapa. Recentemente, a experiência veio-me à memória e decidi reproduzí-la. Convido-vos a juntarem-se a esta experiência daqui a uns excertos.

Foi na transição primavera-verão que visitei a Nova Zelândia. Entre meses intensos de trabalho e estudos, sentia-me ainda em alvoroço quando o avião aterrou em Auckland. À chegada, quando o trabalhador da alfândega declarou em tom de ameaça "This is your last chance to declare if you have any fruits or plants.”, tive um daqueles momentos em que nos questionamos se deixámos o ferro de engomar ligado. Por instantes, imaginei escrito em nota de rodapé duma qualquer CMTV “Portuguesa tramada por maçã.”. Fui ilibada de qualquer suspeita à passagem da bagagem pela máquina para o efeito. Ufa! 
Ainda no aeroporto fiz o câmbio da moeda. Num erro de principiante, o rombo no orçamento lembrou-me o quão mal me tinha preparado para a viagem. 

Depois duma noite bem dormida lá me vi de carro na mão, a conduzir pela esquerda com mudanças automáticas - o que não tem muito saber e retira metade do prazer à condução. Na minha primeira road trip sozinha apanhei Sol e aguaceiros fortes, muitos trabalhos na estrada e uma multa. Ouvi rádios locais, músicas que trago sempre comigo, os pássaros, e o silêncio. Absorvi horizontes longínquos. Sorri perante a beleza das paisagens e a sensação de liberdade.

Ali, onde a Terra acabaria se fosse plana, num dia estamos num lago, no outro em Marte. Ora na sombra de árvores imponentes, ora debaixo dum céu estrelado no interior duma caverna. A Natureza é reverênciada. Não existe lixo nos trilhos e são múltiplos os alertas para a conservação da flora e da fauna autóctones. Não deixa de ser irónico que seja este o país debaixo do buraco de ozono. A vida está direccionada para o ar livre, com muitas actividades ao dispor de visitantes e locais. Gratuitas ou bem pagas, em comum há sempre o respeito pelo meio que rodeia as pessoas.








Contrariamente à primeira impressão, os Kiwis são doces e isso passa para a linguagem “What would you like, sweetie?”“Have you bought all your Christmas gifts, dear?”. E são poucos. Principalmente para um território tão vasto. Na capital, moram cerca de 950 pessoas/km2, e isso nota-se. As casas são rasteiras, as ruas arejadas. Para dar uma ideia, a densidade populacional em Macau ultrapassa as 21.000 pessoas/km2. As casas e as ruas são, em regra, o oposto.

Num dos dias mais relaxados, contrariamente ao que seria habitual, troquei a experiência do jantar cultural Maori por um entardecer à beira do lago Rotorua. Deitada na relva, quis o modo aleatório que começasse a tocar do telemóvel a Dreams today dos Efterklang (ouvir). Senti que tudo fazia sentido, que era mais disto que queria da vida: novos sonhos.

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