Cautionary Tales


Sobe-se e desce-se muito nos túneis do Metro de Barcelona. No geral, caminha-se bastante. Óptimo para atingir aqueles minutinhos semanais de actividade física aeróbica moderada recomendada pela OMS, quando se acelera o ritmo na hora de ponta. Péssimo, quando se obedece ao uso da máscara sob temperaturas estivais, e se volta a entrar numa carruagem lotada sem circulação de ar, depois da tal caminhada em passo rápido. Ao suor a escorrer, junta-se o flagelo dos carteiristas. Lá os vi, a serem apanhados em flagrante e enxotados da carruagem por uma pessoa atenta, para (deduzo) entrarem no transporte seguinte e continuarem o seu ofício sorrateiro. Tiveram melhor sorte do que os colegas de profissão que passaram por mim a correr pela rua, perseguidos, e rapidamente imobilizados, por turistas versados em artes marciais. Entre golpes de tesoura nas pernas, sapatilhas a esvoaçar, clamores pela polícia e água atirada pela janela pela preservação do sossego matinal, senti-me perante a caricatura dum qualquer cautionary tale.

Divago... regressemos ao Metro. 

Um destes dias, sem a pressa de chegar a ditar o ritmo das passadas, reparei na placa incrustrada na parede do túnel em que se lia "Músics al Metro". Espanto! Tocar no Metro de Barcelona só está ao alcance de uma minoria. Primeiro, há-que passar por uma prova de aptidão técnica, para depois ver o seu estilo musical comparado à restante oferta. Tudo em prol da qualidade e da diversidade apregoadas pela administração da TMB, que divide o seu tempo com a gestão cultural da cidade. O verdadeiro 2 em 1. Não admira que os Espanhóis sejam mais produtivos. Tentei visualisar o mesmo em Portugal e fui logo acometida por imagens de derrapagens orçamentais, fundações fantasma e/ou trabalhadores sobrecarregados com tarefas extraordinárias às suas funções e parcamente reconhecidos. Vai daí e talvez seja outro cautionary tale. 

Deu-me para isto, hoje.


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